Revista Científica Protecção da Criança “Uma criança é um ser vivo, uma pessoa a quem se deve dar muito carinho e amizade” (Cristina, 8 anos). Em nenhum país do mundo as crianças e jovens estão a salvo de situações de risco, são as conclusões do estudo mundial sobre Violência contra a Criança. O estudo também conclui que a maior incidência de violência sobre as crianças se verifica em casa, enquanto que nos adolescentes se verifica na rua. Os maus-tratos infantis perpetrados no seio familiar são uma realidade. As crianças, vitimas de maus-tratos, apresentam graves défices de desenvolvimento cognitivo e/ou motor, atraso na aquisição da linguagem, problemas ao nível do relacionamento interpessoal, emocionais e de vinculação e possível aumento da delinquência e/ou criminalidade (Barudy, 1998). Quando é diagnosticada a situação de perigo de uma criança ou jovem é procurada uma solução para a minimizar ou suprimir. O acolhimento institucional é uma das medidas de promoção e proteção, geralmente decretada quando todas as outras já falharam. Após anos de negligência e maus-tratos, as crianças são colocadas num local onde deixam de ser uma para ser mais uma entre muitas, tendo de se adaptar ao barulho e confusão de gente e a silêncios interiores. Por mais afáveis e disponíveis que possam ser os adultos que lhes prestam os seus cuidados, são desconhecidos, e lá permanecem por um período das suas vidas, num sistema de turnos rotativos, embargando a criação de vinculações seguras e estáveis (Johnson, Browne & Hamilton-Giachritsis, 2006). Os primeiros estudos sobre vinculação em crianças institucionalizadas foram realizados por Bowlby, mesmo antes dos estudiosos se debruçarem sobre a panóplia da vinculação e patologias a si associadas. Foram estes mesmos estudos, com esta população específica, que levaram Bowlby a formular o conceito e teoria da vinculação. Destes estudos constatou que é de importância vital que a criança desenvolva uma relação estável e permanente com a mãe ou substituto durante toda a infância. As consequências da institucionalização, segundo alguns investigadores, podem perpetuar-se no tempo e deixar sequelas irreversíveis. Por exemplo, Goldfard (cit in Maclean) com os seus estudos concluiu que a maioria das crianças entre 10 e 14 anos que tinham estado em instituições de acolhimento nos primeiros três anos de vida e, posteriormente integrados em famílias de acolhimento, foram descritos pelos elementos da família de acolhimento como crianças fechadas e com tendência ao isolamento. Estas crianças mostravam igualmente passividade extrema e indiferença a ameaças de retirada ou mudança de família de acolhimento, revelando a forte desvinculação patente. Estes estudos foram realizados no âmbito de lares e orfanatos, bem diferentes do novo paradigma de acolhimento que, diariamente, se está a implementar no nosso país. Em Portugal, a evolução do quadro legislativo e das políticas sociais introduzem uma política de qualidade nas respostas institucionais, tendo como último objetivo a promoção do interesse superior da criança. Desde 2004 que o Instituto da Segurança Social implementou o Plano de Intervenção Imediata, o qual prevê que todas as instituições de acolhimento definam, para cada criança acolhida, um projeto de vida. Iniciou-se assim, um apertar da malha da proteção com um maior grau de exigência. Igualmente o programa DOM, permitirá que os Lares sejam munidos de equipas técnicas e se possibilite a definição e concretização dos projetos de vida das crianças e jovens que acolhem. Os Centros de Acolhimento Temporário (CAT) da ASAS pertencem à geração de instituições que intervêm na esteira de um novo paradigma, com um firme compromisso na Qualidade e uma filosofia de intervenção centrada na criança e no seu bem-estar global. É uma criança com voz e que é chamada a participar nos processos de decisão da sua vida. Num contexto institucional onde a criança tem espaço para ouvir e ser ouvida, onde se potencia a sua participação, autonomia e responsabilização, o Jorge, ao fim de vários anos de institucionalização, define desta forma o sentimento de ser criança: “Ser criança é ser feliz” (Jorge, 6 anos). Não há segredos nem fórmulas mágicas na reconstrução do mundo interior da criança. Nos CAT’s da ASAS o Jorge é o Jorge, um menino único, com vulnerabilidades e potencialidades que é necessário saber auscultar e apoiar. O Jorge é um sujeito de direitos: direito de ser ouvido nas coisas importantes e sem importância da sua vida, de participar ativamente nas decisões que lhe dizem respeito, quer se reportem ao seu projeto educativo, quer ao seu projeto de vida. As rotinas quotidianas, a escola, a atividade desportiva, os amigos, o sentimento de ser “o Jorge da ASAS”, a comemoração de datas importantes, a situação familiar, o futuro, têm espaço de discussão no dia-a-dia, sempre que os olhos brilhem de ansiedade e tristeza ou de expectativa e felicidade. A participação a este nível possibilita planear uma intervenção que vá de encontro às reais necessidades de cada uma das crianças e jovens acolhidos, permite-lhes desenvolver um sentimento de pertença, o formar opinião, ponderar o leque de opções que tem ao seu dispor e encontrar soluções pacíficas. Em suma, colocar a criança no epicentro da intervenção técnica é a metodologia adotada pela equipa da ASAS e o restabelecer do seu eu, da sua confiança no mundo. A procura do seu superior interesse é o resultado a atingir. Demore-se o tempo que demorar. É o tempo que a criança, aquela criança única, demora a aceitar o que lhe aconteceu e se sente livre e em paz para se entregar com confiança ao que o futuro lhe reserva. Nesta longa
caminhada há pontos de referência que nos permitem chegar à meta traçada:
adultos e crianças partilham valores como a afetividade, equidade, honestidade
e responsabilidade. Os resultados são francamente positivos porque acreditamos
no potencial evolutivo e no lado saudável das crianças, reconhecemos e
compreendemos as dificuldades intrapsíquicas e tentamos minimiza-las e
respeitamos incondicionalmente o seu mundo interior. E isto só é possível porque a tarefa de educar é executada por um grupo de pessoas de boa qualidade técnica e humana: “As empregadas da ASAS trabalham com fervor. As suas ferramentas são carinho e amor.” (Teresa Sousa, Vidas que se chamam ASAS, 2005). É desta forma que a ASAS dá cumprimento à sua missão: capacitar cidadãos de pleno direito, protegendo os grupos mais vulneráveis da comunidade, principalmente as crianças e os jovens. Este novo paradigma de intervenção certamente fará a diferença e pautará novos resultados em futuros estudos sobre a população institucionalizada. Esta confiança advém do acompanhamento realizado pós institucionalização, quando as crianças indiciam um estado psico-emocional de equilíbrio e harmonia, de quem está em paz consigo e encontrou o seu porto seguro, a sua família. Para finalizar não podemos deixar de partilhar o facto de em 2007 terem sido adotados 8 jovens da nossa instituição, com idades compreendidas entre os 10 e os 15 anos, a quem foi prorrogada incessantemente a medida de acolhimento institucional, e que mostram ser casos de sucesso extraordinário. O Jorge foi um destes jovens. Hoje vive num concelho vizinho, com os seus pais e irmãos adotivos, com quem estabeleceu uma relação própria de filiação e fratria. Como o próprio refere é um sortudo porque tem 2 famílias: a própria e a da ASAS, a quem contacta com regularidade. Os pais, conscientes que adotaram um jovem com uma história de vida que fará parte das suas memórias futuras e no respeito pela individualidade do seu filho, possibilitam os contactos com os irmãos biológicos, que fazem parte do grupo dos adotados, e com os padrinhos e amigos, que fazem parte do corpo de colaboradores da instituição. Com base na nossa realidade, arriscamos afirmar que assistimos a novas formas de amor, quando não se tem um passado em comum, e se constrói diariamente uma história de filiação entre personalidades definidas. Há um lugar
Há um lugar onde tu podes sonhar
Há um lugar onde tu podes sonhar Porque em cada um de nós E de tudo sou capaz Porque com ASAS sou livre Para encontrar a paz. Ângela Ferreira e crianças do CAT Raízes – Hino da ASAS Tema CD Musical “Vidas que se chamam ASAS” Maria do Céu Brandão, Diretora de Serviços Sociais ASAS Teresa Correia, Psicóloga CAT’s da ASAS | |
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